domingo, 12 de maio de 2013

Era uma vez um país (Prémio Ary dos Santos, Festival Cantar Abril - 2013)


Era uma vez um país

(Miguel Calhaz)

Lá num canto desta velha Europa, era uma vez um país

vivia à beira do mal “prantado”, mas apodrecia na raiz

Reza a história que foi saqueado mesmo por debaixo do nariz

Triste sina, oh que triste fado, era uma vez um país

Os mandantes que por lá passavam eram só ares de “bon vivant”

Viviam à grande e à francesa como se não houvesse amanhã
Havia quem avisasse o povo pra não dar cavaco a imbecis

Mas caíram na asneira de novo, era uma vez um país
Esta fábula do imaginário tão próxima do que é real

Canção de maledicente escárnio à república do bananal

Que se encontrava em tão mau estado, andava a gente tão infeliz

E o polvo já tão infiltrado, era uma vez um país

E lá se vão sucedendo os casos, grita o povo: “agarra que é ladrão!”

Mas passam belos dias à sombra do loureiro

Enquanto o Duarte lima as grades da prisão
E nunca se esgotam personagens neste faz de conta que é assim

Raposas com passos de coelho no mato

e até um corta relvas de madeira no jardim

Entre campeões de assalto à vara e filósofos de pacotilha

Entram nas portas dos submarinos azeiteiros de oliveira às costas

com o ouro da nação pra por nas ilhas Cai-mão, cai-pé,

baixa os braços e as calças e a cabeça e o nariz,

aqui finda esta história que não tem final feliz
(era uma vez um país)

Prémio Ary dos Santos, Festival Cantar Abril - Almada 2013

1 comentário:

alfacinha disse...

um prazer ler o texto
cumprimentos