Era uma vez um país
(Miguel Calhaz)
Lá num canto desta velha Europa, era uma vez um país
vivia à beira do mal “prantado”, mas apodrecia na raiz
Reza a história que foi saqueado mesmo por debaixo do nariz
Triste sina, oh que triste fado, era uma vez um país
Os mandantes que por lá passavam eram só ares de “bon vivant”
Viviam à grande e à francesa como se não houvesse amanhã
Havia quem avisasse o povo pra não dar cavaco a imbecis
Mas caíram na asneira de novo, era uma vez um país
Esta fábula do imaginário tão próxima do que é real
Canção de maledicente escárnio à república do bananal
Que se encontrava em tão mau estado, andava a gente tão infeliz
E o polvo já tão infiltrado, era uma vez um país
E lá se vão sucedendo os casos, grita o povo: “agarra que é ladrão!”
Mas passam belos dias à sombra do loureiro
Enquanto o Duarte lima as grades da prisão
E nunca se esgotam personagens neste faz de conta que é assim
Raposas com passos de coelho no mato
e até um corta relvas de madeira no jardim
Entre campeões de assalto à vara e filósofos de pacotilha
Entram nas portas dos submarinos azeiteiros de oliveira às costas
com o ouro da nação pra por nas ilhas Cai-mão, cai-pé,
baixa os braços e as calças e a cabeça e o nariz,
aqui finda esta história que não tem final feliz
(era uma vez um país)
Prémio Ary dos Santos, Festival Cantar Abril - Almada 2013
1 comentário:
um prazer ler o texto
cumprimentos
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