sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Miguel Hernández (1910 – 2010)







El Herido
Para el muro de un hospital de sangre. 




I 




Por los campos luchados se extienden los heridos. 

Y de aquella extensión de cuerpos luchadores 

salta un trigal de chorros calientes, extendidos 

en roncos surtidores. 




La sangre llueve siempre boca arriba, hacia el cielo. 

Y las heridas suenan, igual que caracolas, 

cuando hay en las heridas celeridad de vuelo, 

esencia de las olas. 




La sangre huele a mar, sabe a mar y a bodega. 

La bodega del mar, del vino bravo, estalla 

allí donde el herido palpitante se anega, 

y florece, y se halla. 




Herido estoy, miradme: necesito más vidas. 

La que contengo es poca para el gran cometido 

de sangre que quisiera perder por las heridas. 

Decid quién no fue herido. 




Mi vida es una herida de juventud dichosa. 

¡Ay de quien no esté herido, de quien jamás se siente 

herido por la vida, ni en la vida reposa 

herido alegremente! 




Si hasta a los hospitales se va con alegría, 

se convierten en huertos de heridas entreabiertas, 

de adelfos florecidos ante la cirugía. 

de ensangrentadas puertas. 




II 




Para la libertad sangro, lucho, pervivo. 

Para la libertad, mis ojos y mis manos, 

como un árbol carnal, generoso y cautivo, 

doy a los cirujanos. 




Para la libertad siento más corazones 

que arenas en mi pecho: dan espumas mis venas, 

y entro en los hospitales, y entro en los algodones 

como en las azucenas. 




Para la libertad me desprendo a balazos 

de los que han revolcado su estatua por el lodo. 

Y me desprendo a golpes de mis pies, de mis brazos, 

de mi casa, de todo. 




Porque donde unas cuencas vacías amanezcan, 

ella pondrá dos piedras de futura mirada 

y hará que nuevos brazos y nuevas piernas crezcan 

en la carne talada. 




Retoñarán aladas de savia sin otoño 

reliquias de mi cuerpo que pierdo en cada herida. 

Porque soy como el árbol talado, que retoño: 

porque aún tengo la vida.


In Miguel Hernández - Poemas

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Discurso de apresentação em Évora

Caras amigas e amigos


Obviamente muito honrado e surpreendido pelo convite que me foi feito pelo Partido Comunista Português para ser Mandatário da Candidatura Presidencial de Francisco Lopes pelo distrito de Évora, devo, mesmo assim, confessar que este me pareceu um tanto exagerado.


Por mim, teria bastado um simples convite para pertencer a uma lista local ou nacional de apoiantes, ficando aí muito bem acompanhado por milhares de outros portugueses que se revêem nesta candidatura.


Acompanhado por todos aqueles que, como eu, já não suportam o estado a que o país chegou.


Acompanhado por todos aqueles que, como eu, não estão dispostos a cruzar os braços, enquanto os cargos públicos, desde as autarquias aos mais altos lugares do poder, passando pelas administrações das empresas do Estado, são assaltados por gente sem as qualificações humanas mínimas para poderem ser chamados servidores públicos.


Acompanhado por todos aqueles que, a não ser lançada esta candidatura de Francisco Lopes, muito dificilmente poderiam vir a ser mobilizados, sequer, para o voto, tal o desolador panorama político, económico e social do país e, no limite, mesmo a mais do que justificada aversão de muitos (aversão política, obviamente!) aos candidatos que se apresentam a esta eleição presidencial.


A começar por uma candidatura que apela ao mais “Nobre”, perdão... pobre populismo, centrado num discurso pretensamente vazio de ideologia, anti-partidos, anti-políticos, anti-política, temas já velhos, que sempre animaram algumas conversas tardias de tasca e, obviamente, a direita, a quem este tipo de discurso sempre trouxe dividendos.


Passando por outra, mais “alegre”, carregada de grandes frases sonoras, cheias de “pátria”, “História”, “destino”, “cidadania” e “esquerda”, mas enredada na contradição de, ao mesmo tempo que diz querer defender o povo das malfeitorias do “capital neoliberal” e do fantasma da “globalização” - de manhã – acabar sempre a apoiar - à tarde - o essencial dessas políticas, levadas a cabo exactamente pelo seu partido de sempre, sempre que está no poder, actividade mais ou menos “bipolar” que mantém há décadas.


Chegando, finalmente e para falar apenas das principais, à recandidatura - por fim assumida! – do actual Presidente da República, o político com mais anos de poder, se somarmos os 10 anos como Primeiro Ministro aos 5 que já leva como Presidente, mais o tempo em que foi Ministro das Finanças de Sá Carneiro. Um político profissional que consegue, entre outras, as fantásticas proezas de:


1. Continuar a falar dos “políticos” como sendo “os outros”, estando ele a pairar num espécie de patamar superior.


2. Não esconder o desprezo que nutre pelos partidos políticos - mesmo pelo seu - e que no caso do Partido Comunista é mesmo uma incompatibilidade cega e antiga, o que dá a imagem de uma visão da democracia... pelo menos bastante original.


3. Ter a descontracção, a que muitos chamariam mesmo “lata”, de dar professorais conselhos e fazer observações críticas à actual situação económica e política do nosso país... como se não fosse um dos seus principais obreiros, o que neste caso quer dizer... culpados.


Perante este triste cenário, era fundamental que aparecesse uma candidatura “Patriótica e de Esquerda”!


Uma candidatura e um candidato para quem a “pátria” não é apenas uma rima de grande efeito, para quem a “esquerda” não é um disfarce, para quem o passado colectivo e pessoal é um mais do que justificado orgulho; para quem as lutas e reivindicações dos trabalhadores não são um estorvo; para quem as mulheres, os jovens, os desempregados, os velhos e as crianças, não são estatísticas, mas sim as companheiras e companheiros de jornada; para quem a saúde não é uma oportunidade de negócio; para quem a escola e a educação não são truques de ilusionismo e, finalmente, para quem a cultura e a arte são uma coisa nossa, um direito, uma “Arma carregada de futuro” e não “um luxo cultural para os neutrais, que lavando as mãos, se desentendem e evadem...” para citar o grande poeta espanhol Gabriel Celaya.


A Candidatura aqui está! Francisco Lopes, apoiado na vontade e determinação de um grande colectivo, vem dar rosto e voz a todos os que, mesmo não estando ligados a qualquer partido, ou que mesmo estando, não se identificam com o rumo seguido pelos partidos da “política de direita” e do autêntico rotativismo e alternância sem alternativa, que têm liderado a contra-revolução em Portugal desde 1976. Todos os que não se identificam com aqueles que todos dias procuram cerrar mais uma das “Portas que Abril abriu”. Todas e todos que, como dizia, consideram esta campanha para a Presidência da República, uma altura soberana, não para jogos de poder e calculismo político, mas para darem um sinal claro daquilo que querem para a sua vida e para Portugal.


É uma Candidatura verdadeiramente independente... das políticas que têm vindo há décadas a arruinar o nosso país.


É uma candidatura verdadeiramente apostada em “Combater o rumo de declínio nacional”, marcado pela obra vergonhosa de PS, PSD e CDS, ao serviço do grande capital sem pátria. Apostada em combater a corrupção que alastra impune, o acentuar do fosso entre os cada vez mais pobres e os cada vez mais ricos. Apostada em lutar pela recuperação da nossa capacidade de produzir, nos campos, na floresta, na indústria, nas pescas. Apostada em valorizar o trabalho e o nível de vida dos trabalhadores. Apostada em reanimar a actividade das micro, pequenas e médias empresas. Apostada em combater a precariedade do trabalho e a catástrofe social que representa termos, num tão pequeno universo de força de trabalho, 700 mil desempregados, sendo uma grande parte jovens. Apostada na luta pela defesa da soberania nacional, face aos poderes económicos que comandam uma integração europeia virada para a exploração dos trabalhadores, tanto europeus como os milhares de imigrantes, que na primeira oportunidade, são tratados, uns e outros, como simples lixo descartável.


É uma candidatura apostada na “exigência de ruptura e mudança”. Apostada, não nos remendos possíveis a esta política, mas sim numa viragem que nos faça navegar com outros ventos.


É, como já disse antes, “Uma candidatura patriótica e de esquerda”. Porque já basta da submissão aos interesses de agiotas e especuladores internacionais. Porque já basta de submissão aos interesses do “Império” e do seu braço armado, a NATO. Porque já basta de políticas de direita. Porque já basta de traições aos princípios da Revolução de Abril. Porque já basta de torpedear a nossa Constituição.


Queremos um Portugal que saiba honrar o seu Povo. Um Portugal que, em vez de subserviente, seja fraterno e solidário com todos os povos do mundo. Um Portugal activamente empenhado na Paz!


Queremos lutar pelo direito a vir a ter um Presidente que, no pleno uso dos seus poderes constitucionais, saiba intervir na vida nacional, mas sobretudo, que sempre que o faça, seja sem omissões, sem calculismos, ao lado dos interesses e direitos do povo.


A candidatura de Francisco Lopes traz uma mensagem política própria, sem ambiguidades nem cartas escondidas na manga. É a mensagem clara do PCP, que, no que diz respeito ao país, mas em particular, ao distrito de Évora, se pode condensar em oito pontos, alguns já antes aqui aflorados e que teremos muitas ocasiões para desenvolver, divulgar e esclarecer... mesmo forçados a lutar contra o manto de silêncio sobre as nossas propostas - quando não é mesmo deturpação – imposto pelos meios de comunicação maioritariamente detidos pelo poder económico e ao serviço da ideologia dominante.


A saber:
1- Defesa dos direitos dos trabalhadores, valorização dos salários e das pensões, aumento do poder de compra.
2- Defesa da produção nacional, promoção do emprego e do crescimento económico.
3- Políticas sociais de apoio aos desempregados e aos idosos e medidas de combate à pobreza e à exclusão social.
4- Investimento nos serviços públicos de educação e saúde.
5- Concretização da Regionalização.
6- Investimento na rede de transportes e comunicações.
7- Defesa da água pública.
8- Defesa de uma política cultural democrática.


A candidatura de Francisco Lopes é a única que defende e é garante de tudo o que acabei de referir... e mais tudo aquilo que por incompetência, ou simples inexperiência, deixei por dizer.


O distrito de Évora sofre ainda com mais intensidade, pelas suas características, tanto as naturais, como demográficas e sociais, como até, em muitos casos, por puro revanchismo político por parte do poder central, quase todos os flagelos que assolam o país, resultado de décadas de políticas erradas e abandono. Aqui, a população não cresce em número mas cresce em idade. Aqui, os velhos são mais pobres, os jovens têm menos saídas profissionais, o desemprego é mais pesado.


Façamos com que o Distrito de Évora diga de forma bem sonora qual o lugar que pretende ocupar nesta História, votando maioritariamente em Francisco Lopes, no próximo dia 23 de Janeiro de 2011.


Um povo cansado, fustigado, aterrorizado pelas implacáveis campanhas de desinformação, rendido às medidas de austeridade que nos impõe como “inevitabilidades” e forçado a perder a confiança no futuro, pode ser levado a sentar-se a um canto, derrotado e sem intervir, à espera de que alguém faça o milagre de resolver o seu futuro. Para isso, não contem connosco!


Não trago na minha bagagem de mandatário “acidental”, nenhum passado construído sobre grandes feitos académicos ou políticos. Ao longo da vida juntei apenas um punhado de canções que fui e vou cantando, e que na verdade nunca foram capazes de mudar o mundo. Mas, em contrapartida, as mulheres e os homens que se juntam para cantar as mesmas canções, podem fazer coisas extraordinárias! Se alguém tem belas canções para cantar em coro, esses somos nós.


Façamos então as coisas extraordinárias, ou, como escreveu o tão nosso Manuel da Fonseca,


“Ó meus amigos desgraçados

Se a vida é curta e a morte infinita

Despertemos e vamos

Eia!

Vamos fazer qualquer coisa de louco e heróico

Como era a Tuna do Zé Jacinto

Tocando a marcha Almadanim!”


Viva Portugal!